De A a Z para a Música na Educação

De A a Z para a Música na Educação... por Pedro Branco

Professor do 1º Ciclo desde 1987, formado pelo Magistério Primário de Lisboa. Trabalhou no Externato “As Descobertas” e no “Jardim Infantil “Pestalozzi” até 1992, altura em que foi convidado pela Constância Editores, para integrar o seu quadro de Editores de livros escolares, cargo que exerceu até 1997.

Pedro Branco
Fotografia de Diogo Branco

Pedro Branco

Professor do 1º Ciclo desde 1987, formado pelo Magistério Primário de Lisboa. Trabalho no Externato “As Descobertas” e no “Jardim Infantil “Pestalozzi” até 1992, altura em que foi convidado pela Constância Editores, para integrar o seu quadro de Editores de livros escolares, cargo que exerceu até 1997.

Nesse ano é contratado pelo Externato Fernão Mendes Pinto, local onde permanece até hoje, com uma turma de vários anos de escolaridade desde 2006.

A sua atividade profissional tem sido pautada por um grande investimento em variadíssimas instâncias do Movimento da Escola Moderna: Congressos, Grupos de Trabalho, Formação… Outras atividades: dirige grupos de teatro e de música, dedica-se à escrita e à música, tendo editado já 6 livros (poesia, prosa, infantil…) e 1 disco. Promove e participa em eventos de poesia e de música com regularidade. Pai de 7 filhos.

Clique no seguinte link para ler este A a Z:

“É preciso provocar sistematicamente confusão. Isso promove a criatividade. Tudo aquilo que é contraditório gera vida.”

(Salvador Dalí)

A

de amor.

Sem amor nada tem aquele sentido que todos achamos que é preciso. Parece que é algo de somenos importância e de fácil acesso, mas não. Infelizmente, o Homem é pródigo em atirar areia para os próprios olhos para não se confrontar com as suas maiores dificuldades e embaraços. Alguma vez se imaginou um Músico compor sem amor? Amor a uma pessoa, a uma causa, a uma revolta… Os professores (profissionais de afetos), infelizmente, não fogem a esta espécie de regra instituída e muito conveniente. E os professores de Música? Será que o amor cabe no meio das colcheias e dos compassos? .

(https://www.youtube.com/watch?v=75iqd2yJH6w)

B

de bondade.

Poderia repetir, quase na íntegra, o parágrafo anterior… No entanto, aproveito para lembrar que a Música, como qualquer arte, é uma atividade de dádiva, de comunicação, de amor, de bondade. Claro que vos falo como criador, como músico. Isso é lógico. Mas também o refiro como profissional de Educação que sou. Penso que é preciso que se coloque a bondade nas respirações docentes para melhorarmos as escolas que temos. E os professores de Música? Será que a bondade tem lugar junto das pausas e dos silêncios?

(https://www.youtube.com/watch?v=ZfyAsj4_ZDI)

C

de confiança.

Outro chavão. Outro clichê. Outra verdade inquestionável. Outro paradoxo entre aquilo que se defende (será que se pensa verdadeiramente?) e o que se faz. O ser humano em geral e os professores em particular têm uma tendência a não confiar muito nos outros, a excluir a bondade do seu lado mais consciente. Historicamente somos “formatados” a desconfiar do vizinho e a construir muros. Um Músico nunca pode deixar de confiar nos seus pares. Confiar na capacidade de improvisação dos seus pares ou na competência de reprodução do que está escrito. Um músico não pode deixar de confiar no público, no seu “juízo” (ou falta dele) e reações. Um professor não poderá deixar de confiar, como é obvio, nos seus alunos. Confiar nas suas potencialidades de aprendizagem, nos seus interesses e leituras, na forma como cada um comunica, se expressa e enfrenta aquilo que lhes pomos à frente. E os professores de Música? Será que a confiança tem estado perto das pautas?

(https://www.youtube.com/watch?v=CRIXprZqRd4)

D

de dinâmica.

Este termo sempre aparece e faz o seu figurão. Em vários domínios da sociedade. Na Música, obviamente que temos de pensar nisso e a confiança é quase cega. A dinâmica, seja ela qual for, é algo assumido por quem faz Música e sentido por quem a ouve. Em Educação temos igualmente que nos lembrar que os grupos, as turmas, apresentam dinâmicas muito próprias, às quais temos de olhar de forma diferenciada. Ou será que podemos fazer as mesmas coisas com grupos de características diferentes? Ou será que não contemplamos nas nossas preparações algo que tenha a ver com dinâmica? Dinâmica dos grupos... Dinâmica dos espaços... Dinâmica dos tempos… E os professores de Música? Será que as questões da dinâmica conseguem vir de dentro?

(https://www.youtube.com/watch?v=3ZGkdW80gnc)

E

de estrutura.

Sou uma pessoa organizada, mesmo que em certa medida me possa identificar, por determinadas vezes, com o estigma do caos daquele que cria. Acredito que uma estrutura sólida e consistente, envolvente e holística, viva e presente, cooperativa e democrática, é sempre o alicerce para qualquer movimento, seja qual for o paradigma social e cultural. Defendo e promovo isso na forma como organizo todo o ambiente da minha sala de aula e procuro que neste processo em constante ebulição (dinâmico?) eu e os meus alunos nunca nos sintamos sozinhos, desacompanhados, sem forças, com pouca energia para fazermos o que temos de fazer: aprender e ajudar a aprender. Temos, portanto, uma sala de aula onde a voz é a de um grupo com o seu líder, no respeito e na crença por uma estrutura onde cada um se possa expressar e desenvolver como pessoa, como cidadão ativo e participativo, como criador de cultura com voz e opinião, com vontade de dar… E os professores de Música? Será que existe uma estrutura coerente na forma como cada um encara o seu trabalho e a sua ação?

(https://www.youtube.com/watch?v=hkBchjktpMY)

F

de felicidade.

Já vão faltando as palavras para defender o que penso ser fundamental na vida (consequentemente, na escola): que as pessoas se sintam bem, confortáveis e confiantes nos lugares onde vivem e onde trabalham, em estruturas boas e coesas, junto daqueles com quem estão e têm de conviver. Ora o que é que isto tem a ver com a escola? Tudo. Será que professores e professores, professores e alunos, professores e diretores, alunos e auxiliares… vivem com felicidade? O que podemos, cada um de nós, fazer para melhorar a nossa felicidade? Queremos pensar nisso? Que podem os professores de uma área tão expressiva como a Música fazer para promover maiores momentos de felicidade nos seus alunos? Será que este desígnio cobre o Currículo tão específico a que nem todos ousam, conscientemente, desobedecer?

(https://www.youtube.com/watch?v=2gs3MoUAZWw)

G

de gume.

Somos todos um pedacinho muito pequeno de um grande fruto. Uma espécie de gume. Ora amargo, ora doce (não precisa ser citrino), mas imprescindível para que o todo se cumpra. Tenhamos a consciência desta humildade e consigamos encontrar nos nossos grupos – família, amigos, colegas, turmas… – essa visão holística e ecológica da condição humana, muito anterior à condição de docentes. Será que, qual orquestra onde cada um desempenha um papel fundamental, conseguimos encontrar esse equilíbrio estratégico, essa felicidade, nas condições que temos à frente e d(n)as quais a maior parte das vezes se sentem tão afastados e impotentes? E os professores de Música? Qual a percentagem de importância que cada um desempenha nesta harmonia?

(https://www.youtube.com/watch?v=CuZ2254HSp4)

H

de hierarquia.

Não sou muito apologista do caos ou da anarquia. Como já se deve ter percebido pelas abordagens várias que até agora fiz, procuro participar na construção de fortes contextos de desenvolvimento e bem-estar. Passa-se na vida. Passa-se na Educação. Passa-se na Música. Há sempre papéis que cada um desempenha dentro de cada grupo, na correlação das suas forças (hierarquias) que se sustentam em papéis e poderes simbólicos e efetivos bem definidos e aceites, como gumes. Fugindo aos egos e egoísmos; às maldades e mediocridades. Procurem-se então estruturas hierarquicamente coesas onde cada um saberá do seu lugar, da intensidade da sua voz e do seu instrumento. E os professores de Música? Qual a liberdade que cada semibreve assume nas partituras das salas de aula?

(https://www.youtube.com/watch?v=7XtLeGhOVFg)

I

de inquietação.

Tão fácil aceitar a ideia de que parar é morrer e que pode ser a insatisfação que nos move. Há algo sempre pronto a acontecer se quisermos e queremos! Há sempre uma nova janela a abrir e queremo-la abrir! Há sempre um mergulho a dar e damos! Na vida, na Educação… procuremos então, nas hierarquias que nos amparam essa linha ténue, mas certeira, que nos separa do comodismo e da inércia, levando-nos para patamares superiores da nossa (pequena) existência. Façamos de cada segundo uma grande sinfonia onde toda a nossa pele se reveja pronta a nos espelhar. Será que procuramos? E os professores de Música querem descobrir nos movimentos fortes e já carregados dos seus alunos as cores da inquietação, que os faça querer ser mais e mais?

(https://www.youtube.com/watch?v=cuMcEC8YygU)

J

de jorro.

Se pensarmos nas crianças e nos jovens como fontes, logo teremos a certeza dos rios. Se deixarmos que cada um deles e todos eles nos inundam com tamanha capacidade e água, logo teremos a infinitude do mar. Se acreditarmos que todo o nosso trabalho se pode alicerçar numa inquietação e pode ir muito mais além do que sabemos, dos nossos medos e vontades, logo teremos todas as dúvidas prontinhas a criar-nos os sorrisos das descobertas. Se nos deixarmos deslumbrar por tamanho jorro criativo e fome de vida, logo encontraremos os ingredientes para viagens inesquecíveis. Acredito que em Educação muito mais importante que falar é ouvir; muito mais importante que saber falar é saber ouvir. É de ouvir que vos falo. Ouvir o jorro que cada um traz consigo e que, de uma forma ou de outra, a Música consegue potenciar. Será que os professores de Música querem acreditar nestas torrentes sem a prisão dos saberes e das teorias?

(https://www.youtube.com/watch?v=YPO1iaetL2I)

K

de Kant.

Sob pena de não nos cumprirmos verdadeiramente, temos de acreditar no Homem e naquilo que ele sabe e é, no seu jorro. Temos de acreditar que, provavelmente contra todos os cânones pedagógicos, nós, os professores, não estaremos já acima dos outros. Precisamos de nos relativizar perante a complexidade contemporânea que tanto tem obrigado a mudar uma Escola que teima em manter-se na mesma. Talvez por isso esteja tão mal. Talvez por isso precise cada vez mais das artes. Talvez por isso esteja, na minha modesta opinião, em estado de moribundez latente. Talvez por isso nos impele para novos arranjos e orquestrações. Será que os professores de Música, quais criadores e loucos, querem enfrentar corajosamente o grande desígnio da mudança? Entrar no ruído para o modificar e transformar? (Veja-se, por exemplo, na facilidade que seria nas escolas haver Música para todos, onde cada um se possa sentir realizado, a produzir e a produzir-se, em obras culturais várias e de diversos alcances… a Música tem o grande poder de não ter – curricularmente – poder quase nenhum…)

(https://www.youtube.com/watch?v=5-Dry18_rrk)

L

de luz.

Tão bem que podíamos associar luz e som! E jogar com isso. Brincar com as inúmeras possibilidades das inúmeras teorias dos inúmeros paradigmas dos inúmeros tempos áureos dos inúmeros génios (Kant?) dos inúmeros sentidos que tudo pode ter… A luz é o sol e o sol é vida e a vida somos nós e o melhor do mundo são as crianças. Ah, e cada um tem dentro de si uma criança, claro! A luz também ofusca e nos atira para a cegueira ou outro qualquer ensaio. Ah, ensaio. Sim! É preciso ensaiar para que a Música seja Música. Há que ter algum discernimento profissional, certo? Luz porque cada um de nós tem em si uma luz. Ou várias. Pensemos com juízo: Será que aceitamos isso sem culpabilizações, tão frequentes nos professores? “Oh, pois… o pai não lhe dá atenção e por isso ele é assim…” “Oh, tem problemas financeiros…” “Oh, é um menino que tem tudo e não dá valor a nada…” Luz! Luz! Luz! Esse brilhozinho nos olhos com que conseguimos amar! Conseguimos? E os professores de Música será que encontram esse calor dentro de cada um pronto a explodir e a pintar o mundo? Desculpem o tom surreal desta parte, mas a luz deixa-me às vezes sem ver muito bem…

(https://www.youtube.com/watch?v=L1VfDGug95w)

M

de Música .

Entrar pelo discurso da importância da Música no desenvolvimento humano será seguramente gerar-se um consenso brutal! Convenhamos: não é isso que está em causa e que tenho procurado trazer à tona (provavelmente sem sucesso…). A questão estará sim nas certezas ou incertezas com que cada professor de Música lida com a sua função (e as suas prováveis frustrações?), com a luz que cada um consegue emanar. Fazemos do pouco tempo que temos com os alunos momentos de verdadeira qualidade e criatividade? Deixamos que a Música se torne, efetivamente, uma respiração em cada um e nos grupos? Acreditamos, confiamos que cada um tem dentro de si toda a Música capaz de criar Música e assumimo-nos como gestores com outro poder científico e teórico que se emocionam e se deslumbram com tamanhas capacidades dos alunos? E os professores de Música sabem desta perigosa liberdade?

(https://www.youtube.com/watch?v=mADiz_vn0RQ)

N

de neo.

Renovemos a vida a cada novo acordar! Assim, como uma verdadeira dádiva. Lembro-me bem de um dos meus mestres – João Mota –, cidadão da vida, do teatro, da arte e da pedagogia, me dizer isso mesmo, junto ao copo de água morna em jejum. Defendo que podíamos atingir outros patamares com outros contornos de respiração e de energia se efetivamente dessemos graças a um novo sol, um novo dia. Artistica e pedagogicamente. Porque em cada cantar haverá sempre uma espécie de bênção e uma nova oportunidade de sermos donos da nossa sala de aula e do nosso tempo nesta bela, delicada e honrosa missão de podermos educar os filhos dos outros. Será que os professores de Música encontram esse intervalo de tempo imprescindível?

(https://www.youtube.com/watch?v=U5L4RvHsk0g)

O

de ócio.

Palavra proibida na vida? Palavra herege na escola? “O Homem não nasceu para trabalhar”, diria Agostinho da Silva. Não tenho esse poder que me dê alguma credibilidade para vos dizer algo semelhante. Apenas o seguinte: Não podemos viver bem sem tempos de ócio e verdadeira fruição artística, cultural, desportiva, afetiva... E se não vivemos bem não devíamos ser professores. E se não formos MESMO professores não podemos ser professores de Música (não o serão eles já?). Haverá espaço nas escolas para tal? Estarão os Currículos preparados para assumir esse novo (neo) tempo, tão fundamentais e geradores de tantas aprendizagens e crescimento “não controlável”? Serão os professores capazes de não estragar essas respirações (recordo a minha professora que nos obrigava a fazer sempre uma ficha interminável de leitura de cada vez que líamos um livro, o que provocou que metade da turma começasse a detestar ler)? Será que os professores de Música querem simplesmente cantar, ouvir Música, conversar sobre Música com os seus alunos só porque é bom e sem se preocuparem tanto com a verificação dos conhecimentos ou a desocultação/desconstrução da obra artística (que por vezes é uma arma bem poderosa e assassina…)? Não será o ser capaz de construir, fruir e partilhar só por si já uma grande aprendizagem?

(https://www.youtube.com/watch?v=hml9ubcstRo)

P

de Pauta.

Esta palavra encerra em si um conceito feliz para uma sociedade melhor. Só com ordem e clareza as comunidades poderão conhecer-se e evoluir. Só com orientações serão criadoras de mudanças significativas. Na vida, na Educação, na Música, não podemos deixar para trás este poderoso registo que nos responsabiliza para um estar mais ativo e forte onde quer que estejamos, onde se consegue encontrar espaço para tudo (inclusivamente para o ócio). Será que os professores de Música querem construir as suas pautas com os seus alunos? Deixar que as linguagens de cada um se configurem em equilíbrios com sentido? Ou simplesmente insistem numa formatação pouco consequente para quem, como a maior parte dos alunos, encara a Música como uma linguagem própria e algo inconsequente como ferramenta de trabalho e de vida?

(https://www.youtube.com/watch?v=2gHu96WQLcU&list=PLw0v_UUM0hKAKbF8urEHLF0kL0-zKhAF0&index=1)

Q

de quimono.

“Coisa para vestir”, diretamente do Japonês. Eis o que todos devemos fazer na vida. Vestir a nossa vida e fazer do nosso (curto) passeio uma existência cheia de paisagens e dádivas. Somos todos criadores e capazes. E temos uma ou várias pautas! Sabemos enfrentar os espelhos e verificar-nos para continuarmos a ser melhores, para nós e para os outros. Fugindo aos egocentrismos sociais que nos querem afastar uns dos outros. Rejeitando as grandes ilusões do novo e “fantástico” mundo tecnológico atual! Qual é então o grande roupão que decidimos vestir para “combater”? Será que sabemos? Será que os professores de Música aceitam as passerelles dos seus alunos e se deixam deslumbrar com isso?

(https://www.youtube.com/watch?v=PTt6dUGzO80)

R

de reflexão.

A vida não é uma viagem que se faça sem pensar nela. Temos de nos colocar em posições humildes de a tentar entender para a tentar melhorar. De vestir esse quimono. Esta é uma verdade mais que lógica. Tanto como aquele sinal de trânsito que está sempre no mesmo sítio e já nem o “vemos”. Será que encaramos a necessidade de sermos reflexivos – connosco e com os outros – para podermos viver e trabalhar melhor? Ser professor tem de ser, seguramente, uma profissão onde esta competência deve surgir como forte instrumento de trabalho, qual serrote para o carpinteiro. Será que os professores de Música levam para as suas pautas este olhar? Permitem-se isso? Permitem essa voz aos outros? (Sim, os alunos são, por natureza, bem mais capazes de pensar do que certos adultos…)

(https://www.youtube.com/watch?v=mpauUChzXB0)

S

de sinais.

Fascinam-me os Músicos que conseguem incorporar nas suas orquestrações subtilezas que as enriquecem. São sinais conscientes que tornam a comunicação em algo ainda mais surpreendente e potenciador. Na vida, como na Educação (já se reparou que este paralelismo me surge quase sempre?) não devíamos deixar de procurar que a leitura e a reflexão sobre esses sinais – dos olhares, da linguagem não verbal, dos implícitos… – que na maior parte das situações são excluídos da nossa função como sendo algo não mensurável e de pouca importância, como não fazendo parte da condição humana, como não entrando na equação docente… Somos humanos. Temos uma profissão de relação. Não será legítimo de todo não encarar os sinais dos outros como avisos para a nossa reflexão e ação. Com a sensibilidade que nos é característica. Será que os professores de Música encaram esta questão quando olham para os outros? Será que procuram esses sinais para as suas orquestrações?

(https://www.youtube.com/watch?v=B5P4lRBOfNE)

T

de textura.

Se nos pensarmos como um grande tapete ou manto colorido, onde cada um tem a sua forma, a sua cor, os seus sinais, facilmente entenderemos que os sonhos e os medos que nos acompanham sempre (Temos, não temos?) também formarão as suas texturas, que com os outros nos levarão a manter a nossa vida mais aconchegada. Somos ao mesmo tempo aqueles que se colocam debaixo do xaile nas noites de frio como os que tricotam o casaco de malha para vestir ou oferecer. Haja cor! Haja conjugação e vontade! Será que os professores de Música aceitam entrar nesta espécie de loop que se vai multiplicando em si até ao grande manto final? Ou ficamo-nos pelas potencialidades de pedal de efeitos?

(https://www.youtube.com/watch?v=m4UpryzurOU)

U

de único.

Único é cada momento que vivemos. Cada acorde que ouvimos ou cada voz que nos ressoa no coração. Únicos são as crianças e os jovens que temos à frente e todas as suas capacidades e medos. Únicas são as nossas responsabilidades perante isso. Única é cada criação humana – Canção, Pintura, Poema… – e por isso únicos somos nós. Já vos “roubei” um sorriso com estas divagações? Boa! Façamos da nossa vida, das nossas texturas, das nossas aulas, momentos verdadeiramente únicos e nossos. Meus e teus. Dele e deles. Dos outros. Será que os professores de Música encaram este frontispício quando colocam uma obra ou uma atividade a circular? E quando acordam de manhã?

(https://www.youtube.com/watch?v=n92WXR-AuUM)

V

de viagem.

Eis o grande motivo da nossa vida. Quiçá o único… Eis a nossa vida. Eis o que fazemos. Somos músicos? Viajamos pelos sons, pelos instrumentos, pelas cantigas, pelos públicos, pelas obras que produzimos… Somos cozinheiros? Viajamos pelos alimentos, pelo olhar sobre eles, pela forma como os tratamos e juntamos, pelo que inventamos… Somos professores? Viajamos pelos outros, pelas responsabilidades que temos sobre eles e com eles, por aquilo que lhes dizemos ou não dizemos, pelo que fazemos ou não fazemos… Quem pensa assim? Será que os professores de Música aceitam e acreditam nestas viagens e em todas as suas causas e consequências quando colocam uma canção popular portuguesa para se dançar? Será que temos esta consciência na pele?

(https://www.youtube.com/watch?v=LrNz37uc7kc)

W

de Wagner.

A perspetiva do trabalho holístico e assumidamente profundo. Estar na vida – viver – é isso mesmo: uma viagem de aceitarmos a nossa condição de produtores e fazedores de cultura, capazes de se emocionar e de emocionar, de manter acesas as chamas individuais e coletivas dos outros. Podemos dizer isso mesmo quando pensamos na maioria das salas de aula, repetitivas, onde todos fazem praticamente o mesmo e onde em vez de construírem conhecimento se limitam a reproduzir conhecimento? Podemos acreditar que ISSO é profundo e interessante? Desculpem, mas não. Ainda por cima nos tempos que vivemos, em que a informação nos chega agora bem mais depressa e nalguns casos de forma bem mais interessante… Será que a Música “curricular”, os professores de Música, não poderiam assumir uma vertente bem mais provocadoramente mais desafiadora do ponto de vista cognitivo, emocional e social? Quem pensa nisso?

(https://www.youtube.com/watch?v=yDbjyZrdeSI)

X

de xamamento.

Eis mais uma traição ao espírito deste convite (escrever este artigo), que muito me honrou e desde já agradeço. Um erro ortográfico!!! Mas não se pense que não tem razão de ser, porque tem. Primeiro, na crença de que não precisamos de ser perfeitos para nos fazermos entender (Atingiu-se o conceito, certo?). Depois, num confronto teoricamente complexo que é pensar-se que muitas das questões da ortografia não apresentam regras tão facilmente entendíveis e que inclusivamente algumas têm tantas exceções que mal conseguimos decidir. Igualmente a escolha desta forma pouco “ortodoxa” também pode ilustrar a minha ideia (profunda, Wagner) de que precisamos de escolher bem as prioridades da vida (E da Educação!), sob pena de nos perdermos do essencial. Ou não terão os Currículos de Língua Portuguesa uma carga ortográfica e gramatical tamanha que as crianças e os jovens se vão desinteressando da leitura e da escrita cada vez mais… Será que os professores de Música conseguem chamar (agora sim, corretamente) para si a responsabilidade de… chamar o que é realmente interessante? Mesmo que para isso tenham de “comprar” algumas guerras…

(https://www.youtube.com/watch?v=iojYDSjKK00)

Y

de yang e yin.

Somos todos feitos destas forças e das suas conjugações. Somos seres vivos e como tal diferentes e cheios de energias várias. Não sou adepto de nenhuma linha especial, religiosa ou espiritual. Sigo os meus instintos e capacidade de reflexão e ver o mundo, nos “xamamentos” de estar vivo. Procuro sentir o que está à minha volta como um rio sempre ativo, que corre da fonte à foz, que alimenta um leito estruturado nas suas margens. Valerão de muito pouco as teorias várias e específicas nos vários níveis laborais onde nos situamos se depois não nos entendermos como seres vivos ou se acharmos que isso é tão banal que nem vale a pena pensar-se. Eu penso. Desculpem. Antes de ser humano sou animal e antes de ser professor sou um ser humano. Antes de ser pai sou pessoa ou antes de ser marido sou homem… Será que os professores de Música conseguem entender o lado estético e individual d(est)a arte? Será que assumem na sua ação o lado energético do mundo e do Homem?

(https://www.youtube.com/watch?v=yEhsvrMpoRA)

Z

de Zeus.

Eis o grande deus dos deuses. Tal como nós. Somos os grandes deuses das nossas vidas, das nossas escolas e dos nossos alunos. O yang e o yin. Por isso, temos de nos fazer valer disso. Conto (mais) uma história: Estava o Raul Solnado a descer a rua 31 de janeiro no Porto, à noite, quando é abordado por um velho. “O senhor não é o Raul Solnado?”, pergunta-lhe admirado, de dedo apontado. “Não… não sou.”, terá dito o Raul, não querendo alimentar conversas com desconhecidos, uma vez que devia estar com pressa. Reação do tripeiro – “Oh, homem! É que é mesmo parecido! Aproveite-se disso! Aproveite-se disso!”. Aproveitemos a nossa condição! Ser professor já é uma autêntica maravilha. Ser professor de Música é ampliar todas essas possibilidades com a associação fantástica do som e das suas potencialidades. Por isso… aproveitem-se disso! Aproveitem-se disso!

(https://www.youtube.com/watch?v=kGvY4tqcgUQ)


LISTA DOS M(Z)EUS ACOMPANHANTES NESTA VIAGEM (em português):

  1. Carolina Deslandes
  2. Jorge Palma
  3. Chico Buarque
  4. José Afonso
  5. José Mário Branco
  6. Caetano Veloso
  7. Sérgio Godinho
  8. Elis Regina
  9. Dead Combo e Camané
  10. Maria Bethânia
  11. Os Azeitonas
  12. Pedro Osório
  13. António Variações
  1. Osvaldo Montenegro
  2. Trovante
  3. Chico Buarque
  4. Pedro Abrunhosa
  5. António Zambujo
  6. Pedro Branco
  7. Djavan
  8. Paulino Vieira
  9. Xutos e Pontapés
  10. Márcia e JPSimões
  11. Adriana Calcanhotto
  12. Fausto Bordalo Dias
  13. Manuel Freire

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A APEM

A Associação Portuguesa de Educação Musical, APEM, é uma associação de caráter cultural e profissional, sem fins lucrativos e com estatuto de utilidade pública, que tem por objetivo o desenvolvimento e aperfeiçoamento da educação musical, quer como parte integrante da formação humana e da vida social, quer como uma componente essencial na formação musical especializada.

Cantar Mais

Cantar Mais – Mundos com voz é um projeto da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM) que assenta na disponibilização de um repertório diversificado de canções (tradicionais portuguesas, de música antiga, de países de língua oficial portuguesa, de autor, do mundo, fado, cante e teatro musical/ciclo de canções) com arranjos e orquestrações originais apoiadas por recursos pedagógicos multimédia e tutoriais de formação.

Saiba mais em:
http://www.cantarmais.pt/pt

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